Servir é uma das mais nobres missões cristãs (Mc 10:44), como
entregar-se pela salvação dos outros, um dos ensinos mais pessoais de
Jesus (Jo 10:11; 15:13). Infelizmente o que temos visto é uma
desconstrução do perfil essencial de discípulo do Grande Mestre –
através de crentes que não servem a ninguém, senão a eles próprios, sem
qualquer humildade e ainda ressaltados por atitudes impositivas. Gente
que mesmo na igreja, a postura revela o caráter egocêntrico de quem não
está acostumado a servir, a ceder à vez, a pedir desculpas, a dar
preferência, a ser gentil, a perdoar, a suportar e até a carregar as
cargas de quem precisa – tudo isso é bíblico, mas quase nada é praticado; mas por quê? Porque não querem servir aos outros e nem seguir o padrão estabelecido por Cristo (Mt 20:28).
Se servir já nos é difícil, quanto mais humilhar-se diante do próximo.
Na verdade, nestes dias de evangelhos genéricos com suas proclamações
de “super crentes”, de “prosperidades sem fim”, de “subjugadores de
potestades” e de “príncipes e princesas”; nos inquieta o ensino de
humilhar-se – desequilibra-nos em nossa “teologia de superioridade”
aquela recomendação de oferecer o outro lado da face já atingida (Mt
5:39). As instruções que aplaudimos não têm nada a ver com fazer-se de
servo para cumprir o verdadeiro Evangelho; na realidade, o que
mais nos apetece são os tipos de “evangelhos” que classificam senhores,
organizam cabeças, ordenam maiorais, revestem ungidos, estabelecem
líderes, elevam astros e fazem brilhar estrelas – tais “boas novas” com tantos “TOPs e UPs” só não geram servos, é claro (Mt 23:11).
Não generalizando, mas a atual postura supostamente cristã de não querer
servir não é por um simples efeito de natureza cultural ou social da
pós-modernidade – sobretudo é um problema de centralidade.
Significa que enquanto formos egocêntricos jamais nossa vida será
Cristocêntrica. Enquanto não tivermos Cristo como nossa razão de viver,
tudo continuará girando em torno de nós mesmos (2 Tm 3:2) – nem que
para isso tenhamos que escutar um “evangelho” cuja eisegese nos seja
conveniente. A maioria de nós está há tanto tempo sem servir aos outros que quando o faz até estranha
(leiam-se esses “outros” como aqueles que estão fora ou nas periferias
de nossos círculos de amizades e fraternidade). A atitude de oferecer
auxílio não era para ser uma exceção ou provocar alteração positiva de
humor – deveria ser habitual e fazer parte de nossa convivência diária,
sem distinções ou excepcionalidades.
As oportunidades de servir não estão somente em programas
assistenciais como o dos Médicos sem Fronteiras, nas doações do Programa
Criança Esperança ou naqueles carnês de contribuições missionárias que
circulam nas igrejas. A prática do servir carece mostrar-se além
das carteiras e das respostas financeiras; precisa ter rostos, nomes,
sorrisos, lágrimas e abraços – precisa ser você in loco – e o melhor
lugar pra começar a fazer isso é na rua, no ônibus, no trabalho, na
escola e em qualquer local em que estivermos deveremos ser servos de
Deus e do próximo!
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