Embora o termo “modismo” tenha imediata associação com o universo
estilístico e da moda; a semiótica ligada à expressão vai para além dos
desfiles, passarelas, vitrines e desejos dos guarda-roupas femininos. O
entendimento e a dinâmica do termo pressupõem que o indivíduo é
influenciado por novas e emergentes expressões sociais, culturais e
religiosas – que como novas tendências comportamentais e expressionistas
alteram o modo de desejar, fazer, falar e ser – num
determinado período de tempo (pois modismos são temporais);
notabilizando-se pelo uso das mesmas roupas, corte de cabelo, expressões
de linguagem, música, ideais coletivos, chavões de grupo, bem estar,
consumos e práticas das mais variadas.
Todo desdobramento e envergadura dos modismos – sejam de cunho
religioso ou não – objetivam a adesão do indivíduo as novas práticas e
experiências propostas pelo movimento modista. Quando o Neymar (jogador
do Barcelona) começou a adotar diferentes cortes de cabelo –acabou
lançando um novo “hair style” para seus fãs mundo afora – depreendendo
daí um exemplo nítido de modismo. Outro ponto importante é que qualquer
modismo precisa da adesão de formadores de opinião para emplacar e no
meio religioso não é diferente. Grandes igrejas com seus líderes
inovadores, cantores da música gospel e pregadores avivalistas são os
mais prováveis candidatos a emplacar uma nova moda entre o povo.
Desde “unções do paletó” a “rolezinho gospel”; de suspensórios
masculinos (lançados por um ilustre pregador, doutor em divindades e
deputado federal) a “unções proféticas”; vira e mexe muitos irmãos estão
participando!
No segmento cristão o termo modismo aplica-se a crenças e
comportamentos cúlticos, litúrgicos e até místicos ligados a “novas
revelações e experiências de fé” sem qualquer suporte das Escrituras.
Modismos são mais notados entre pentecostais e neopentecostais e tem
sentido objetivo de desvio doutrinário por não poderem se fundamentar na
bíblia, possuírem levantes históricos controversos e apresentação
teológica inconsistente. Como no mundo secular, entre os pentecostais e
neopentecostais os modismos geralmente são apresentados por figurões
persuasivos, líderes que partindo do campo da experiência pessoal –
estabelecem um novo “padrão de evangelho” com manifestações das mais
variadas e estranhas. Enquanto alguns “movimentos” desenvolvem e
espalham suas invenções e inovações quase sempre caracterizadas por
exageros e tentativas da representação física e palpável do sagrado; os
pentecostais clássicos sustentam uma posição restritiva a tais
manifestações, exatamente por desejarem preservar os padrões litúrgicos e
doutrinários herdados; e esse firmamento se constitui como a maior
oposição aos modismos entre esse grupo.
Sei que não serão todos os pentecostais que concordarão comigo quanto à existência de modismos extrapolados em seu meio. Saliento
que os relatos históricos dos primórdios pentecostais no Brasil
apresentam experiências que estão em perfeita consonância com as
mencionados nas Escrituras tais como o batismo com o Espírito Santo, o
falar em línguas, dons espirituais e cura divina (At 2.4; 8. 17; 19.6; 1
Co 14.5) e todos nós como continuistas acreditamos, vivenciamos e
pregamos tais graças. A questão é que mesmo que “a ala do
pentecostalismo clássico” não aprove os exageros das experiências
emotivas, confusão litúrgica e homilia extra-bíblica que compõe os
“modismos” praticados na atualidade em nossas denominações; temos de
admitir que fomos influenciados por ondas e modas “renovacionistas” que
nos distanciaram de nossas origens, identidade e comportamento
histórico. O motivo óbvio para tal declaração é que fomos dando cada vez
mais ênfase às experiências como afirmações doutrinárias através da
prática de campanhas, revelações, unções especiais e outras agregações
heterodoxas.
Modismos quando tratados á luz da Palavra de Deus são revelados como suposta autoridade espiritual
com conotações e desfechos distantes dos ideais do Novo Testamento
como, por exemplo, unção do riso, da imitação de animais, de cair no
espírito, de obturações de ouro, de perda de peso e etc. Pretensa materialização de poder através de consagração de objetos como chaves, carnês de contribuição, lenços, rosas, água e etc. Engodos de restauração
por meio de sessões de descarrego, quebra de maldições, regressão,
mapeamento genealógico, anulação negativa do poder do nome que a pessoa
recebeu e etc. Disparates de contexto bíblico e cultural
por intermédio da importação de símbolos e emblemas do templo e culto
dos israelitas (algumas igrejas já têm reproduções da arca da aliança e
do menorá em seus púlpitos); por quererem assimilar funções do serviço
levítico e sacerdotal do A.T à música e ao ministério pastoral do N.T.
Quem dera se os pontos críticos dos “modismos liturgizados” fossem
apenas um descontrolado ápice emocional ou um extravasar sentimental
praticado por membros das igrejas que assumem tais costumes. A incoerência maior é que estas tendências estabelecem crenças infundadas através de seu teologismo distorcido.
Comprometem e corrompem a relação do crente com Deus desenvolvendo uma
condução menos bíblica e mais emotiva da vida cristã. Estabelecem “novos
e invertidos valores” da mordomia bíblica que não é a de servir a Deus e
ao próximo, mas a si mesmo; elevam a autoridade do “dom de revelação” à
própria inspiração das Escrituras, dando ênfase mais a essas
“revelações pessoalmente dirigidas” do que aquelas milenarmente
comunicadas através da Bíblia para a vida comum da Igreja de Cristo.
Modismos do lado aderente geram manias e no outro lado resistente a elas
acabam por desenvolver fobias, gerando dissensões e embates entre os
irmãos.
Outro modismo litúrgico são os tais “cultos de reteté”. O historiador pentecostal Isael de Araújo assim os descreve:
“Nos cultos “reteté”, pessoas marcham, pulam, contorcem, caem, riem,
berram, ficam rodopiando pra lá e pra cá num verdadeiro reboliço.
Geralmente, essa desordenada movimentação se dá enquanto hinos são
cantados em ritmos como forró ou axé, com batuques e pandeiros que
lembram reuniões do candomblé. Para os crentes do “reteté” só os seus
cultos são verdadeiramente pentecostais e têm o mover de Deus. Mas esses
cultos ultrapassam os limites da meninice e muitas vezes são pura
expressão de carnalidade e falta de temor a Deus. Seus dirigentes são
obreiros neófitos que não estimulam o povo a ler mais a Bíblia e ser
mais equilibrados”. Gutierres Fernandes Siqueira do blog Teologia Pentecostal refuta os “cultos de reteté” a partir de 1 Co 14:20-40):
“Qual o problema do reteté? São vários os problemas com essa modalidade
de culto e seria necessário rasgar I Co 14 das Sagradas Escrituras,
para aceitar o reteté”.
a) A passagem ensina ordem e decência (v.40), além de mostrar que os dons têm propósitos para edificação da Igreja (v.26). “Faça-se tudo para edificação”.
b) Deus não é de confusão (I Co 14.33). O reteté encarna o caos!
c) O “reteté” infantiliza, contrariando o bom-senso exortado pelas Escrituras (I Co 14. 20)
d) O culto é racional (Rm 12.1), enquanto o “reteté” inspira os mais primitivos instintos emocionais, desprezando por completo o intelecto.
Finalizo observando que modismos não resolveram o problema do
protestantismo norte americano e canadense e certamente sua importação
para o nosso país menos bem tem feito a igreja evangélica brasileira. O
interesse das igrejas pentecostais nesta última hora não deveria ser
por “novidades espirituais importadas ou adaptadas”; percebemos uma
igreja inchada em seu “ego autoritário” (Ap 3.7) e vazia da autoridade
do Espírito; composta por crentes que se acham ungidos para amaldiçoar e
declarar coisas que nem medem as conseqüências se fossem realizadas. O
verdadeiro culto pentecostal é composto de hinos, exposição das
Escrituras, exercício na coletividade dos dons espirituais (I Co 14.26).
A liturgia pentecostal não deve ser o extremo oposto da equilibrada
liturgia tradicional, pois o que diferencia é o exercício dos dons, com
toda moderação e seguindo as diretrizes da Bíblia. É tempo de voltarmos
(Ap 2.4-5) à prática do puro e simples Evangelho de nosso Senhor Jesus
Cristo!
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