O adágio popular “a casa caiu pra fulano”, alude a uma
situação abrupta, adversa e irreversível na experiência de vida do
sujeito envolvido em tal desventura. A consideração é aplicada
geralmente a pessoas que avisadas de antemão, acerca de decisões e
providências que deveriam tomar, não o fizeram e depois sofrem as
inevitáveis conseqüências de tanta procrastinação (Jr 25:4; Lc 6:49). A “casa cair” pelo prisma bíblico – constitui-se como uma das formas
de Deus tratar conosco direta ou indiretamente.
O Altíssimo o poderá
fazer diretamente quando permite suceder em nossa vida eventos que fogem
ao nosso controle, mas que estão em conformidade com o Seu plano para o
nosso amadurecimento e aperfeiçoamento (1 Co 10:13; Tg 1:12; Jr 29:11).
Indiretamente, poderá o Santo de Israel por conta daquilo que inspirou e
se fez registrar em sua Palavra (Bíblia sagrada); permitir ao homem
escolher o próprio caminho e herdar de suas decisões resultados bons ou
maus (Js 24:15; Gl 6:8-9).
Pra muita gente, o “cair na real” só acontece na base das “pancadas da vida”,
ou numa linguagem evangélica – “colhendo o que plantou” (Gl 6:7).
Infelizmente, na maioria das vezes queremos transformar uma cinzenta
realidade com pinceladas coloridas de infantil ilusão. Preferimos adiar o
que realmente importa para alimentar as extravagâncias de um famigerado
ego que só busca fama, dinheiro e sucesso – mesmo que nos custe caro
adiante, mas ignoramos. Adoramos acender holofotes para os outros, mas
estamos por detrás do refletor, embrenhados numa escuridão de dúvidas,
problemas e dilemas – mas, de modo inexplicável e inconsequente curtimos
viver perigosamente, ainda mais fazendo pose de crente santão, de
profeta ou profetisa de Deus.
Numa reflexão figurada, mas bíblica a “casa cai” para um crente quando este fundamenta sua fé em areia (Mt 7:26).
Nos dias de Jesus não dava para construir uma casa ou um prédio sobre
terreno arenoso – a fundação tendia a ceder e a estrutura ficaria
comprometida por inteira; assim é também na vida cristã e em nosso
relacionamento com o Salvador; pois se Cristo não for quem realmente nos
sustenta e de onde recebemos apoio para os momentos de enchentes,
ventos e tempestades (Rm 9:33; At 4:11-12; Lc 6:48; 1 Pe 2:5), a casa
cairá sem dúvida.
A casa de muita gente famosa do meio evangélico está caindo, quer
seja do ponto de vista espiritual, moral ou social – estamos em tempos
de desmoronamentos e escombros daquilo que um dia ostentava fachada de
modelo de vida cristã. Muitos tentaram erigir ministérios, carreiras,
livros e Dvd’s que falam de Cristo, mas que jamais estiveram alicerçados
nEle – e no sinótico de Mateus, isso é tolice (Mt 7:26).
Mas, depois que tudo ruiu alguns atentaram para a
realidade que sempre os acompanhou: conseguiram se ver como realmente
são, reconheceram que não são super crentes, que não tem super
poderes, que não detém revelações mágicas para sucesso de coisa alguma;
como também não possuem receitas para o casamento feliz dos outros, a
prosperidade completa alheia, ou de qualquer unção extraterrena e
absoluta sobre a vida de terceiros. Descobriram por duras penas que não
podem continuar mantendo a mesma pose ou tocar com o mesmo discurso
triunfalista do “seja feliz”, “você é um vencedor”, “não aceite”,
“declare”, “profetize” e por ai vai. Quem me dera fosse à vida cristã
estabelecida sobre o que eu declaro, sobre minha confissão positiva –
seria muito mais fácil, mas vida cristã é realidade, e realidade como
sinônima de verdade fere, confronta, machuca e até envergonha; pois
desnuda das roupagens da mentira e descostura os uniformes do viver de
aparências – a realidade é cruel com os casarios de faz de conta, e
derruba mesmo!
E agora que a casa caiu, o que fazer? Se arrepender
para em seguida reconstruir sobre o alicerce dos sábios é o ideal chave
(Ap 2:5); recomeçar é a atitude esperada por quem reconheceu onde errou e
com quem errou. A carreira, a agenda, a pose e tantos outros afins
exteriores; agora são desnecessários. A lavagem da alma e a renovação do
espírito para o correto esquadrinhar da vida sobre Cristo Jesus é o
mais importante agora. Alguns não conseguem abrir mão daquilo que acham que não deveriam
perder – o estrelato gospel – tentam justificar as falhas, embalar uma
isenção de culpa, incriminar somente a outra parte e tal. O recomeço
nasce no íntimo e brota em casa, a profunda relação com o Senhor se dá
no quarto (Mt 6:6); o sentido do prosseguir torna se visto no seio da
família, entre irmãos e amigos que oram e torcem por você (Pv 18:24).
Sem julgamentos ou apontamentos, afinal – a casa já caiu. Mas, Deus
reconstrói ruínas (At 15:16) e restaura brechas (Is 58:12); daí repito
as palavras daquele que no pior momento de sua caminhada, em meio a
lágrimas e pressões por todos os lados disse: “Bom é ter esperança, e
aguardar em silêncio a salvação do Senhor (Lm 3:26)”.
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